Nesse mês de março, a HAJA conseguiu montar a sonhada cozinha do projeto "Vejo um Jardim". Ter uma cozinha amplia a possibilidade de atuação do projeto em várias frentes como saúde, econômica, educativa, relacional. E em especial, é uma forma de fomentar e dar acesso a um importante direito básico:
“A alimentação adequada e saudável é um direito humano básico que envolve a garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos biológicos e sociais do indivíduo e que deve estar em acordo com as necessidades alimentares especiais; ser referenciada pela cultura alimentar e pelas dimensões de gênero, raça e etnia; acessível do ponto de vista físico e financeiro; harmônica em quantidade e qualidade, atendendo aos princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer; e baseada em práticas produtivas adequadas e sustentáveis” (Guia Alimentar para a População Brasileira/ Ministério da Saúde, 2014).
É através da cozinha que temos contato direto com o nutrir da vida, ou seja, a nutrição não só do físico, como também das relações dentro da família, da cultura local e do acesso social e econômico às várias fontes de vida.
Segundo a especialista em epidemiologia nutricional Thays Nascimento o ato de preparar os alimentos e o hábito da comensalidade - de conviver à mesa, do como e com quem se come - são algumas das características que expressam a singularidade enquanto seres humanos. Para ela, a comida, também, envolve outros elementos para além de nutrir o corpo: através do que comemos, manifestamos nossa cultura, costumes e simbologias que circundam quem somos. Portanto, para além dos aspectos biológicos, o contexto alimentar envolve características socioeconômicas.
O projeto "Vejo um Jardim", onde a cozinha foi construída, fica na comunidade de Quatro Rodas em Jardim Gramacho, uma área que precisa lidar com o histórico de ter sido construída sobre o antigo lixão da cidade do Rio de Janeiro e por isso ela se torna ainda mais importante e simbólica. Uma vez que, para saúde das famílias e suas crianças esse histórico ronda seu dia-a-dia e é um grande desafio, ainda mais em um momento de crise sanitária.
O acesso à nutrição e à segurança alimentar é uma das ferramentas possíveis para aumentar a prevenção de doenças, e mais, ela é um recurso insubstituível, pois estudos mostram que a suplementação através de medicamentos não tem o mesmo efeito que o ato de adquirir os nutrientes através da ingestão desses nutrientes.
Segundo o Ministério da Saúde vários estudos mostram, por exemplo, que a proteção que se observa com o consumo de frutas ou de legumes e verduras contra doenças do coração e certos tipos de câncer não se repete com intervenções baseadas no fornecimento de medicamentos ou suplementos que contêm os nutrientes individuais presentes naqueles alimentos. Esses estudos mostram que o efeito benéfico sobre a prevenção de doenças advém do alimento em si e das combinações de nutrientes e outros compostos químicos que fazem parte da matriz do alimento, mais do que de nutrientes isolados.
Para além da saúde física, a HAJA tem grande interesse em contribuir para saúde psicossocial e para nós isso significa o incentivo à autonomia, ou seja, ao fortalecimento do sujeito e da sua comunidade. O acesso sobre boas informações e possibilidades alimentares é uma parte importantíssima desse processo:
“O acesso a informações confiáveis sobre características determinantes da alimentação adequada e saudável contribui para que pessoas, famílias e comunidades ampliem a autonomia para fazer escolhas alimentares e para que exijam o cumprimento do direito humano à alimentação adequada e saudável (...) implica o fortalecimento das pessoas, famílias e comunidades para se tornarem agentes produtores de sua saúde, desenvolvendo a capacidade de autocuidado e também de agir sobre os fatores do ambiente que determinam sua saúde”(Guia Alimentar para a População Brasileira/ Ministério da Saúde, 2014).
Por fim, a escolha, a preparação e a ingestão de alimentos são atos que envolvem toda a sociedade, desde a plantação até a partilha do alimento na mesa das famílias. Falar de nutrição, como diria nossa CEO, Nadia Barbazza, é falar de acolhimento, aconchego, harmonia e partilha. Todos estamos envolvidos e somos responsáveis por nutrir nossos corpos e nossas vidas.
Continue nutrindo essa rede, HAJA, em prol do justo acesso aos direitos básicos de todo ser humano.
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