A juventude é uma fase da vida caracterizada por mudanças. Ela compreende o processo de transição entre o universo infantil e o mundo adulto. Quando inúmeras mudanças psíquicas e físicas acontecem através de um conjunto de crises identitárias naturais desse período.
Assim, trata-se de um movimento que pede do jovem uma saída gradual do "ninho", para a experimentação do mundo. Onde a família, passaria a assumir um lugar de porto seguro, local de acolhida e de orientação, e as amizades passariam a ser colocadas no lugar de acompanhantes dessa experimentação, na parceria de ações. Esse movimento tem a função de construir uma identidade autônoma, um entendimento do papel social que deseja assumir, como sua profissão e seu propósito.
Ou seja, é por si um período intenso onde a socialização e a degustação dos locais em que se vive tem papel fundamental. Agora, imagine-se vivendo esse período em uma pandemia, como aconteceu nos últimos dois anos:
Socialização se torna um risco sanitário;
Lugares públicos fechados para prevenção de contaminação;
Entre esses as escolas, um lugar de trocas e construção de futuro que se torna ausente e incerto;
A família em convivência intensa, potencializam-se conflitos, já comuns dessa fase de "separação" para construção autônoma;
As amizades e vínculos se enfraquecem com o distanciamento;
Crises econômicas impactam as famílias e a possibilidade de conseguir bons empregos;
Aqueles em estágios e empregos passam a correr risco de contaminação;
O sentimento de insegurança com relação ao futuro é aumentada com as incertezas mundiais;
A tecnologia se torna aliada e também vilã em seus excessos;
Convivência com lutos de parentes e amigos se tornam recorrentes.
Portanto, inúmeros desafios se somaram às crises que seriam naturais dessa fase de vida. E as consequências disso são sentidas intensamente na saúde mental dos jovens brasileiros, sendo, obviamente, que a depender do contexto social e econômico isso se agrava. Por isso, muitos movimentos têm buscado entender a complexidade dos impactos da pandemia nos jovens.
Entre eles a pesquisa “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus” realizada em em 2021 pelo de Conselho Nacional da Juventude com 68 mil jovens brasileiros e que buscou responder quais foram os efeitos da pandemia em suas vidas e quais são as perspectivas de futuro para as juventudes.
O que se observou nas respostas dos jovens foram um intenso sentimento de ansiedade, o uso de exagerado de redes sociais, a sensação de exaustão e cansaço constate, muitos relatam distúrbio no sono e aumento dos conflitos em casa, sendo que 10% dos entrevistados revelaram terem tido pensamentos relacionados à automutilação e ao suicídio conforme figura abaixo (Juventudes e a Pandemia do Coronavírus).
Eu participo de rodas de conversa com jovens de todo o Estado, tipo uma terapia. E muitos jovens realmente dizem que essas frustrações, a incerteza do trabalho, do futuro, do estudo, da saúde mental... a gente se isolou das pessoas e não pode desabafar. E essas frustrações ocasionam esses pensamentos negativos (...) (relato de um jovem pesquisador - Juventudes e a Pandemia do Coronavírus)
Outro estudo realizado pelo Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) reuniram dados comparativos de antes e depois da pandemia e demonstram que o número de jovens diagnosticados com depressão praticamente dobrou depois da pandemia. A prevalência do transtorno em jovens na faixa etária entre 18 e 24 anos era de 7,7% e saltou para 14,8%, o maior crescimento entre as faixas etárias, como pode-se observar no gráfico ao lado (G1):
Os dados são contundentes sobre a necessidade de apoio à saúde mental das juventudes brasileiras, especialmente dos mais vulneráveis. E os próprios deixam explícito essa necessidade e mostram os caminhos de como ajudá-los, dentre esses, duas ações se mostram prioritárias: garantir um apoio especializado e olhar para a desigualdade, em especial o combate à fome, como pode-se ver na figura (Juventudes e a Pandemia do Coronavírus):
Tais dados validam a decisão da HAJA em investir na contratação de uma psicóloga durante a pandemia para atuar junto à comunidade. Logo, buscamos proporcionar o acesso ao serviço de saúde mental de forma gratuita sem a necessidade de deslocamento, um apoio que como vimos tem sido crucial para superar as sequelas da pandemia. Também percebemos que a sede do projeto na comunidade de Quatro Rodas se tornou um ponto de encontro e de socialização seguro para os jovens da região.
Trabalhamos, também, de forma intensa, o acesso à educação pelos jovens. O qual sabemos que foi muito dificultado durantes os últimos anos. Nossos esforços são buscando combater a evasão escolar, a qual teve grande aumento pelo pandemia, através do nosso projeto de Educação Integral, nele as diferenças e dificuldades de cada aluno são respeitadas para que possam se sentir incluídos. Esse trabalho é feito junto à família, no intuito de que as crianças e adolescentes não precisem antecipar sua entrada no mundo adulto, ajudando economicamente os pais, e assim possam ter novas possibilidades de melhoria de vida e mais saúde.
A medida que crescem, os alunos passam a participar de oficinas de profissionalização, apoiando a construção de seu projeto de vida, longe dos subempregos e com mais esperança no futuro e em si mesmos. E não podemos esquecer da nossa Cozinha Solidária que continua alimentando inúmeras famílias em situações de risco alimentar, uma das preocupações principais da juventude atual.
Portanto, estamos atentos aos desafios e necessidades de nossos jovens, todos precisamos estar e é essencial que façamos algum tipo de contribuição à saúde mental dessa fase, da forma que pudermos, através de conversas, do acolhimento e da troca com eles, isso pode ser de grande valia. Mas, claro, fazemos o pedido de que nos ajude a continuar mantendo os nossos projetos vivos, para isso sua participação é essencial para nós.
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