Setembro é um mês bem relevante para a discussão sobre saúde mental no mundo inteiro, nomeado Setembro Amarelo a discussão gira em torno da prevenção do suicídio, uma morte considerada evitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As vítimas por autolesão são diversas, assim como suas motivações. Não há como reduzir a uma causa a morte por autolesão, ela é complexa e multifacetada. O tema é um grande tabu, e por isso, a ideia é que no Setembro Amarelo se abra espaço para falar sobre o sofrimento mental sem preconceitos, no fundo a intenção do mês é entender o que gera potência de vida.
Tais questões se tornam especialmente importantes em momentos de crise, segundo pesquisa realizada pela Universidade de são Paulo (USP) em 11 países o Brasil lidera os casos de depressão e ansiedade durante a pandemia da COVID-19 (CNN). Outra pesquisa mostra que 50% dos jovens brasileiros consideram ter uma saúde mental prejudicada, segundo a:
pesquisa realizada em capitais brasileiras mostrou que metade dos jovens de 18 a 24 anos consideram sua saúde mental como "ruim" (39%) ou "muito ruim" (11%). Considerando o público geral, o número de pessoas que classificou a saúde mental como "muito ruim" foi de 5% e "ruim", 25% (O Globo).
Diante da magnitude do tema, diferentemente do que se é comum pensar sobre saúde mental os autores Berger e Luckmann propõem a seguinte reflexão: "Quando numa sociedade ocorrem frequentes crises subjetivas e intersubjetivas de sentido, de modo a se tornarem um problema social geral, não devemos procurar causas no sujeito em si nem na suposta intersubjetividade da vida humana. O mais provável é que as causas estejam na própria estrutura social. Precisamos nos perguntar então quais as propriedades estruturais específicas de uma sociedade histórica que poderiam impedir o surgimento de crises de sentido e quais poderiam favorecê-los"( Modernidade, pluralismo e crise de sentido: a orientação do homem moderno por Berger & Luckmann).
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou uma pesquisa de 2016 onde os resultados se alinham aos autores citados e demonstram o quanto as em crises tem grande relação com a saúde mental da população. Isso se deve ao que parece a um efeito cascata, uma vez que as crises exacerbam as desigualdades sociais, pela falta de renda, pelo desemprego, ou pela insegurança do emprego atual, isso faz com que aumentam-se dívidas e tudo isso pode levar à agravamentos dos quadros de ansiedade e depressão, os transtornos de aumento mais citados nas pesquisas . Nas crises se observam, também, o aumento do consumo de tabaco, abuso de drogas ilícitas e lícitas, consumo excessivo de álcool, o que contribui pra diminuição da imunidade dos indivíduos e o aumento de doenças infecciosas e crônicas.
No entanto, o que a pesquisa IPEA vai mostrar é que as entidades públicas e suas ações têm um grande impacto para o desenrolar das crises. Logo, se diante das crises o governo mantém ou desenvolve ações de proteção de sua população como não reduzir gastos em saúde, manter subsídios públicos como garantia de emprego e renda, faz com que a saúde da população sofra menos danos.
Porém, o que se observa na prática é que em crises a uma tendência de redução de gastos justamente nos serviços de proteção às populações mais vulneráveis, isso a longo prazo prejudica inclusive a retomada da economia. É a conclusão que Vieira chega em sua pesquisa pelo IPEA: "segundo os estudos analisados, a mitigação dos efeitos das crises econômicas passa pela preservação do sistema de proteção social dos países, sendo cruciais os programas ativos de reinserção dos indivíduos no mercado de trabalho. Essas evidências fizeram com que economistas do FMI revissem suas prescrições aos países para o enfrentamento das crises econômicas, reconhecendo que algumas políticas neoliberais aumentam a iniquidade social e colocam em risco uma expansão durável da economia. Admitiram que as políticas de austeridade fiscal(medidas de redução de gasto) não só têm custos para o bem-estar social, mas também afetam a demanda, aumentando o desemprego. Na prática, os benefícios que tais medidas podem trazer ao reduzir a dívida pública, aumentar a confiança e o investimento privado parecem ter sido exagerados, havendo forte evidência de que a iniquidade pode significativamente baixar o nível e a durabilidade do crescimento econômico".
Ou seja, o sistema de proteção social de um país não só garante bem-estar social como garante o crescimento econômico.
Infelizmente, no Brasil essa realidade não está presente, entre 25 países nosso pais é o que mais se sente abandonado pelos que o governam. Sentem em cada dez pessoas, ou seja, 70% da população tem o sentimento de desamparo e desesperança com relação às lideranças políticas (El País).
Portanto, neste mês setembro precisamos falar de saúde mental, mas se atentar para que essa não seja uma pauta individual e sim coletiva. É imprescindível políticas proteção social como de criação de renda, de inserção dos jovens ao mercado de trabalho e proteção da educação e da saúde pública. Os trabalhos das organizações não governamentais como os da HAJA são de suma importância, pois conseguem reagir a crise de maneira mais rápida, e muitas vezes é somente com esses projetos que família tem acesso ao mínimo com alimentação. Mesmo assim, os direitos de proteção social são pautas que precisam ser cobradas dos políticos próximos a nós o ano inteiro e as ações neoliberais precisam ser repensadas nestes momentos de crise em especial.
Enquanto isso, cabe a nós cuidar da gente mesmo e cuidar um dos outros. É protetivo para nossa saúde mental os vínculos com pessoas que nos querem bem, o partilhar de afetos, a criação de rede de apoio em nossas comunidades, a participação em lugares que nos conecte com o que acreditamos, com uma espiritualidades, com o social, com o meio ambiente. Conversas sem julgamentos também salva vidas, o Centro de Valorização da Vida (CVV) está 24 horas disponível para ouvir quem precisa de forma gratuita e o Mapa de Saúde Mental ajuda pessoas a se conectarem com profissionais da saúde a preço social.
A HAJA se mantém firme junto às famílias nesse momento de crise, você também pode ajudar e quem sabe até ser voluntário em nossos projetos. Saiba que contamos com você, mas você também pode contar com a gente.
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